Projeto Pesquisador Curumim

 

Tendo suas raízes consubstanciadas nesta finisterra e sendo responsável por um considerável acervo arqueológico, desde sua fundação em 1961 o Instituto de Arqueologia Brasileira-IAB contou, durante alguns anos, com o subsídio do CNPq para suas pesquisas e desenvolveu outras tantas com recursos gerados pela arqueologia de contrato. Há alguns anos, projetos mais robustos permitiram avançar um pouco mais na estrutura econômica da instituição.

No início do ano de 2000 algumas poucas reformas, como uma pintura nova e, aos poucos, a construção de novas salas anexas aos prédios já existentes despertaram a atenção da comunidade para aquele espaço até então somente conhecido como “a casa da múmia” pois, a maior parte do tempo, a grande maioria dos seus pesquisadores se organizava para novas pesquisas e desenvolvimento de trabalhos de análises de material para publicações - inúmeras vezes com recursos próprios - a partir do Centro de Estudos Arqueológicos (CEA) que se estabeleceu como uma espécie de “filial" do IAB, de 1974 a 2012 no bairro de Del Castilho na cidade do Rio de Janeiro-RJ.

Por volta de 2003 o Instituto começa lentamente a desenvolver pequenas atividades educativas em sua sede convidando a comunidade a participar, estimulando involuntariamente, já que não dispunha de verbas para tanto, expectativas de emprego nos seus moradores, além de fortes apelos de pais e mães (especialmente mães), para inserir seus filhos menores no corpo de funcionários do instituto, uma vez que era grande a preocupação com as intermináveis horas vagas que os deixavam muito mais vulneráveis a certas “tentações”.

Como, obviamente, o Instituto não emprega crianças surgiu a ideia de buscar um mecanismo onde se pudesse legalmente atender a esses apelos. Acolhê-los como bolsistas seria a solução. Assim foi se delineando o que é hoje o Projeto Pesquisador Curumim onde consta em uma das cláusulas do seu contrato um auxílio de bolsa de meio salário mínimo para cada um dos integrantes.

Permanecem por meio expediente no instituto sob a orientação dos pesquisadores, demais professores e supervisão geral da idealizadora do projeto, Jandira Neto, canalizando as potentes energias que estão em ebulição nesta fase da vida e, a partir daí, apropriam-se da gama de informações que dão suporte para as experiências a cada nova empreitada do IAB compartilhada com todos.

Sob o aspecto da boa formação cidadã que o convívio diário com uma instituição de pesquisa proporciona são inúmeros os ganhos! Também vastas as possibilidades de crescimento para qualquer jovenzinha ou jovenzinho que esteja disposta/disposto a usufruir e aproveitar ao máximo da oportunidade. Afinal, este é um processo de gestação do embrião do papel profissional que começa a se desenhar no esboço da personalidade.

Há um leque de possibilidades de atuação dentro da área de arqueologia que possibilita atender as mais variadas tendências de aptidão. O futuro profissional poderá, por exemplo, atuar na área mais burocrática como a idealização de um projeto e o planejamento da pesquisa; para os de espíritos mais aventureiros as pesquisas de campo, com seus carrapichos e carrapatos, são ainda a maior alegria; para outros, mais afeitos a minuciosidades, a curadoria do material resgatado, análises e a interpretação de dados lhes absorverão por horas a fio e, tranquilamente. Outra área bastante promissora é a da divulgação da arqueologia pública que opera através da Educação Patrimonial. Neste setor, talvez os mais inquietos e criativos possam se identificar! Enfim, somente com estes exemplos, já que o campo é ainda mais amplo, a instituição acredita oferecer, para quem tem interesse em substanciar-se destas fontes, um “banquete”!

Foi com este sentimento que o Instituto manteve de três a quatro pesquisadores curumins no início e sustentando assim na média até que, em 2008, a instituição participou de um Edital da Unesco e obteve aporte para atender o total de oito meninas e meninos por 1 (um) ano. Ao final deste subsídio o IAB continuou mantendo, com relevante esforço, o projeto, patrocinando os que apresentavam melhor desempenho e a outros muito vulneráveis a tortuosos caminhos. Hoje, desde o início, alguns já se graduaram, outros a caminho, outros já se encontram em grau acadêmico de Pós-graduação e Mestrado. Deste modo, até 2015 cerca de 50 jovens tinham passado pelo processo. 

 

Em 2016 as condições financeiras do instituto inviabilizaram o projeto...

Mas havia uma possibilidade para sua retomada: o IAB havia inscrito o Projeto de Modernização do Instituto de Arqueologia Brasileira-IAB no Programa de Apoio ao Patrimônio Cultural Brasileiro - Caixa Cultural (Edital 2016). Aguardava-se o resultado.

Assim foi que, no início de 2017, o IAB recebeu a comunicação de que o seu projeto havia sido selecionado. No seu escopo, além de franquear as condições para reorganização do acervo arqueológico do instituto de acordo com as novas normas do Iphan - entre outras ações de suma importância para o bom funcionamento da instituição - também contemplava o Projeto Pesquisador Curumim.

Com a boa notícia iniciou-se as medidas para o processo de seleção dos novos pesquisadores curumins. A primeira delas foi fazer contato com as escolas e promover a partir dela as primeiras triagens. Ela diria quem, de acordo com o desempenho escolar, estaria mais apto a participar dos demais estágios do processo seletivo.

Após mais algumas fases incluindo, na penúltima, a importantíssima participação dos pais até a etapa final quando a banca, que participara ativamente do processo, avaliou o desempenho e elegeu oito dentre os inscritos.

 

Ao final os jovens selecionados foram divididos em dois grupos que atuaram quatro deles pela manhã ja que estudavam à tarde e vice-versa.  sob a coordenação inicialmente dos monitores Cida Gomes e Rafael Jacaúna (posteriormente apenas a Cida permaneceu na função)  e coordenação geral de Jandira Neto. No processo são avaliados, de acordo com o Projeto, a cada três meses. Foram eles:

Daniel G. S. Lima - 16 anos  Júlia C. P. de Araújo, 16 anos  Luciano S. de França, 15 anos  Marcos J. O. Bighi, 17 anos 
Pâmela K. C. Martins,15 anos  Pedro Lucas O. da Silva, 15 anos  Rodrigo J. V. de Oliveira, 17 anos  Sanderson K. C. Martins, 14 anos 
Jandira Neto, coordenadora geral Cida Gomes - monitora Rafael Jacaúna - monitor

Por questões familiares o estudante Pedro Lucas O. da Silva decidiu abandonar o Projeto abrindo vaga para Marcele de Souza Ferreira.

 Desta forma o instituto voltou a se afirmar na sua comunidade como gerador de cultura, educação e renda para jovens em potencial processo de exclusão social principalmente gerada por fatores socioeconômicos. Reconhecemos, são poucos perante seu enorme contingente exposto às armadilhas lançadas diariamente sobre suas cabeças sonhadoras, sob a suspeita promessa de serem alçados a um “lugar ao sol” por vias temerosas e nos sensibiliza em alto grau as condições sociais, culturais e muitas vezes morais a que são diariamente submetidos, com pais igualmente vilipendiados que se esforçam para lhes oferecer o máximo possível e de cujas tentações lutam para livrá-los, muitas vezes sem nenhum sucesso.

Esta é uma das razões pelas quais nos solidarizamos com a nossa comunidade promovendo eventos que possam, em algum momento, quem sabe até por acaso, despertar os mais suscetíveis a buscar caminhos contrários aos que lhes parecem mais imediatamente atraentes, porém muito duvidosos.

Texto: Antônia Neto

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